quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Abre-se a compota

Uma experiência difícil dessa vida é compreender nossas angústias. Revelá-las e sobretudo abrir caminhos para dissipar esse mal, se é que tem jeito. Se nesses textos que escrevo a melancolia parece estar embuída de angústia, não nego, tem muito disso. E não sei bem como denominar o que pretendo fazer com as angústias, talvez tolerar, suportar, encaminhar, resolver, esvaziar ou até conviver... Quando algo não vai bem, a produtividade despenca, a afetividade se afeta e a ansiedade acelera. Supostamente, deveria entender dessas coisas num outro plano, mas eu entendo bem empaticamente, do lado de analisando. Sei que é um grande passo a passo que cansa, desanima e padece, mas que vai, de um jeito ou de outro. Como sujeito de linguagem, eu muitas vezes não quero dizer nada, quero esconder e guardar tudo só para mim. Mas quando se "abre a compota" é difícil ficar só na linguagem, o corpo chora  junto. Você pode estar pensando que eu tenho problemas absurdamente difíceis de se solucionar. Não é isso. Só tenho dificuldades de encaminhar minhas questões que não andam e lidar com minha existência incompleta e insatisfeita. Nessa empreitada continuo a viver como qualquer bom vivente, trabalhando, estudando, tendo amigos e me relacionando com todas as coisas do mundo. Uma maneira que encontrei para colocar minhas perguntas é escrever aqui, ou dialogar com um colega interessado, antes de me entupir de antidepressivos, ansiolídicos, sair fazendo cirurgias plásticas, me viciar em drogas, ou em consumismos vãos, para dar conta daquilo que nem sei o que é, só sei que se sente. Antes mesmo de me desequilibrar no convívio social, de abandonar a análise e correr atrás de um psiquiatra que me diagnostique com crise de ansiedade e depressão, só quero ter o direito de não me sentir contente. E isso não é para todo dia. Na minha reflexão, no meu autoconhecimento mereço entender porque o meu funcionamento histórico me determinou assim, e saber o caminho a percorrer para estar mais perto daquilo que quero ser, construir e desejar. Se você que lê isso e acha triste demais, lamento. Repito, amanhã pode ser diferente. Não é questão de humor, não sou bipolar. Apenas retrato aquilo que se passa pela minha humanidade e através dela sei que posso superar os percalços, não supervalorizados mas devidamente notados que me atravessam. Sabendo que enfim, abrindo-me honestamente, nas fragilidades expostas eu possa enfim sentir saúde e paz, independente da imperativa felicidade.