sábado, 7 de junho de 2014

Pipa



Ela olhava pela janela mas só via seu interior confuso.
Ela encontrou um conforto e nele sabia que só se aventurava, contravenção inocente.
Olhava mais alto e sentia o vento forte.  Achava que o vento podia levar qualquer coisa que desejasse.
Olhou mais alto e em frente e viu a pipa de um menino.
Só via a pipa e não o menino, contudo sabia que ele estava lá a brincar.
Quis imaginar como ele estaria. Estaria ele sorrindo, estaria ele sozinho, estaria ele se distraindo?
Enquanto olhava para o céu e para pipa a balançar com o vento que melhorou o dia do menino, a moça de pensamentos perdidos ouvia uma canção, uma bela canção.
Repetiu várias vezes aquele canto em pensamento. Fazia dele sua oração.
A moça pensava em sua história, com um pouco de drama como gostava de fazer.
Gostava de sentir. Gostava de pensar, de planejar e de ouvir músicas profundas.
Pensava no seu alívio, na letra daquela canção, na pipa e no amanhã.
Desejava que a verdade daquela voz bonita se tornasse a sua verdade.
Ardia de vontade de ser livre como um simples papel bem recortado e colado a hastes de madeira.
Sempre quis ver as coisas de cima. Panoramicamente.
Pecava por querer ver demais. Ver além. Entender da vida as coisas mais escondidas.
Mas naquele dia ela entendeu o que dizia aquela música, "É de Deus tudo aquilo que não se pode ver."
A moça não viu mais a pipa que sumiu num límpido azul do céu.
O que ela viu foi seu coração sereno ser tomado de um alívio melhor do que aquilo que a confortava antes.