sábado, 1 de dezembro de 2012

Ah o tempo, um infinito muito particular

O tempo é um daqueles mistérios que a ciência tenta estudar e que o ser humano vive tentando entender.
Na nossa vida tudo tem relação com o tempo. Acaba sendo um fator crucial, às vezes prejudicial ou benéfico dependendo da perspectiva. Mas na realidade, nada parece ser tão infinito como o tempo e igualmente particular. Tomamos as decisões baseados no tempo, julgamos as ações comparando com o tempo, e já dizia a música "temos nosso próprio tempo". De forma universal, tudo tem seu tempo. Tempo de crescer, de andar, de falar, de namorar, de entrar para faculdade, de formar, de trabalhar, de casar, de ter filhos, de morrer. Um desenvolvimento datado e com hora marcada. E quando surgem os 'contratempos', tentamos desfazer essa lógica imposta do 'já deu tempo disso ou para aquilo' e começamos a equacionar uma dor estranha de tentar nos desenquadrar desse tempo. Sei lá! Vai saber como lidar com isso?!
Tenho aprendido que minha relação com o tempo é subjetiva por demais. Observo isso em mim e nas pessoas ao meu redor.  Mas do que posso falar - de mim - é que tem sido uma experiência difícil, às vezes desastrosa, administrar o meu desejo e o meu tempo para todas as coisas. Compreender de verdade que a minha pressa, pela imposição das minhas metas e prazos não podem ser objetivas como eu gostaria. Mas com um certo esforço eu começo a considerar que isso é que me atrapalha. Talvez o que eu tenha que entender, como a música também ensina é que, 'temos todo o tempo do mundo'. Acalentar a alma e deixar me guiar pelas oportunidades, uma de cada vez, desmarcando os compromissos firmados com o futuro seja lá por qual motivo. Entender que o relógio da minha vida eu não posso adiantar ou controlar. Tão fundamental é aguardar minuto por minuto, segundo por segundo, o passar das horas. Porque o tempo muitas vezes não quer prioridade, não quer atenção, ele quer que vivamos!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Outro lado da moeda

(Na grande maioria das pessoas, resta sempre algo da ordem do indomável e do ineducável, que a cultura é incapaz de controlar. Freud observa que "aqueles que desejam ser mais nobres do que suas constituições lhes permitem são vitimados pela neurose. Esses indivíduos teriam se sentido melhor se lhes fosse possível ser menos bons.")

Trecho retirado do livro de Nina Saroldi: O mal estar da civilização - as obrigações do desejo na era da globalização

Nós seres humanos com nossas exigências internas não conseguimos nos esquivar dos padrões nos quais tentamos nos enquadrar e de um sofrimento proveniente dessa impossibilidade. E que muitas vezes causam danos reversíveis, porém muito trabalhosos. Há que se repensar esse movimento humano, que caminha incansavelmente para um outro nível de neurose, diferente das do tempo de Freud, mas que funciona talvez de uma mesma forma - com o mesmo 'para quê'. O trecho acima me fez refletir para o ponto crucial "se sentiriam melhor se fossem menos bons". Ouço pessoas que se queixam diariamente de tentar ser perfeito demais. Essa é uma cilada moderna. Uma forma de aprisionamento talvez que nos autoriza nesse extremo, como se nele fosse permitido abusar. Não quero sugerir que as pessoas não tem que tentar ser melhores, mas colocar esse ideal antes de tudo e angustiar-se a tal ponto, não leva a progresso e nem a andamento nenhum.  Precisa haver uma tentativa, da mesma forma que pode haver falhas e do mesmo jeito que se pode acertar! Tudo na vida tem o seu lugar.

"O inimigo do bom é o melhor".






domingo, 18 de novembro de 2012

Só não sei a direção

Abro a janela e deixo o sol entrar.
Deito na cama, tento não me ocupar.
Ao meu redor tudo sabe o que eu devo fazer.
Eu não sei, não tenho a direção.
Ainda não sei me acalmar. Não aprendi a descansar.
Sei dos planos, dos sonhos e dos afetos.
Mas às vezes não sei, não tenho a direção.
Sei dos livros, das músicas e dos sapatos.
Me vejo neles, me sinto neles, me apego a eles.
Pode amanhecer e anoitecer. Não posso mais diferenciar.
Abro as cortinas e fecho as janelas. Quero o ar  e não os olhares.
Abro as janelas e fecho as cortinas. Quero os olhares e não quero o frio.
Deito na cama porque tenho com o que me preocupar. Tenho o que fazer.
Fica para amanhã e fica para depois. Preciso descansar.
Sei dos gestos, sei das palavras, sei do silêncio. Um infinito particular.
Sei dos acordes, sei dos tons e sei dos sons.
Só não sei a direção, não sei o ritmo.
Não entendo o compasso do coração.



domingo, 11 de novembro de 2012

Vi-vendo para ver

O mundo me promete progresso e eu acredito. O mundo me pede paciência e eu insisto. O mundo me pede para acreditar e eu desconfio. Disseram-me muitas coisas. Que vence o melhor, que precisamos uns dos outros, que tenho que fazer sempre mais, que devo dar a face para o outro bater. Eu sempre me pergunto se ainda existem verdades nesse conjunto de informações. Nada concluo. Num dia se aprende a ceder, no outro se aprende a perder, e no outro você descobre que é  muito mais que isso. Vão dizer para seguir o coração e agir com a razão. Vão dizer seja forte mas saiba que fraquejar é normal. Vão dizer que auto-estima resolve tudo e que não tem fórmula pronta. Cada ser humano tem suas infinitas teorias de como viver. Tal qual os cientistas, se esquece que sempre cuidamos das leis e mal sabemos aplicá-las. Compreendê-las não é vivê-las, ainda que seja o primeiro passo. Inevitável e felizmente temos capacidade para proteger nossa estima de que vamos aprender direitinho o que é melhor a fazer. E que o tempo nos tornará sábios para encarar o que vier pela frente. E mais uma vez eu me pergunto. Que progresso é possível? Pessoas acostumadas a achar que aprenderam com a vida, exalam uma certa arrogância da conquista da verdade. Eu sei que é assim, dizem, eu já passei por isso. E as leis gerais do comportamento funcionam de forma a sugerir que se deva levar em conta, afinal é a experiência dizendo. Paciência, até que ponto? Às vezes, o que mais precisamos é saber mudar a rota, é não esperar mais por algo que minha vã insistência entende como caminho. Arrancar das minhas convicções que ao invés de pacientemente aguardar dádivas, eu posso me esforçar mais, essa é uma necessidade ignorada. A vida deveria ser uma eterna investigação científica séria. Onde as hipóteses serão testadas e acreditar ou não é só questão de evidências. Nossa frágil ingenuidade nos coloca na posição de submissão frente às crenças que inconscientemente o mundo nos impõe. Acredite que aquilo lhe fará feliz, acredite que você vai vencer, que acreditar que tudo vai dar certo como condição para sucesso. Uma medida de dúvida se presta mais a fazer acontecer que a própria crença. Pois é quando eu não sei o que vai acontecer que eu me entrego, arriscando com a margem de segurança de quem pode não ter feito a melhor escolha, mas que a faz. Na balada da contra-mão, exercito-me pondo em xeque àquilo que enraizado está na sabedoria cotidiana. Posso ter elencado uma porção de bobagens, mas a atividade crítica do que instituiu-se como generalizações no mundo certamente me incomoda. A cada homem a vida ensina de forma particular. Faremos sempre trocas de saberes e experiências, teremos sempre sabedorias a partilhar, crendices nas quais se apoiar e verdades em que iremos acreditar. Basta não aceitar tudo sem crivo, sem critério e sem a sua própria vivência para as conclusões tirar.

E assim, desejo um pouco de dúvidas a você.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Abre-se a compota

Uma experiência difícil dessa vida é compreender nossas angústias. Revelá-las e sobretudo abrir caminhos para dissipar esse mal, se é que tem jeito. Se nesses textos que escrevo a melancolia parece estar embuída de angústia, não nego, tem muito disso. E não sei bem como denominar o que pretendo fazer com as angústias, talvez tolerar, suportar, encaminhar, resolver, esvaziar ou até conviver... Quando algo não vai bem, a produtividade despenca, a afetividade se afeta e a ansiedade acelera. Supostamente, deveria entender dessas coisas num outro plano, mas eu entendo bem empaticamente, do lado de analisando. Sei que é um grande passo a passo que cansa, desanima e padece, mas que vai, de um jeito ou de outro. Como sujeito de linguagem, eu muitas vezes não quero dizer nada, quero esconder e guardar tudo só para mim. Mas quando se "abre a compota" é difícil ficar só na linguagem, o corpo chora  junto. Você pode estar pensando que eu tenho problemas absurdamente difíceis de se solucionar. Não é isso. Só tenho dificuldades de encaminhar minhas questões que não andam e lidar com minha existência incompleta e insatisfeita. Nessa empreitada continuo a viver como qualquer bom vivente, trabalhando, estudando, tendo amigos e me relacionando com todas as coisas do mundo. Uma maneira que encontrei para colocar minhas perguntas é escrever aqui, ou dialogar com um colega interessado, antes de me entupir de antidepressivos, ansiolídicos, sair fazendo cirurgias plásticas, me viciar em drogas, ou em consumismos vãos, para dar conta daquilo que nem sei o que é, só sei que se sente. Antes mesmo de me desequilibrar no convívio social, de abandonar a análise e correr atrás de um psiquiatra que me diagnostique com crise de ansiedade e depressão, só quero ter o direito de não me sentir contente. E isso não é para todo dia. Na minha reflexão, no meu autoconhecimento mereço entender porque o meu funcionamento histórico me determinou assim, e saber o caminho a percorrer para estar mais perto daquilo que quero ser, construir e desejar. Se você que lê isso e acha triste demais, lamento. Repito, amanhã pode ser diferente. Não é questão de humor, não sou bipolar. Apenas retrato aquilo que se passa pela minha humanidade e através dela sei que posso superar os percalços, não supervalorizados mas devidamente notados que me atravessam. Sabendo que enfim, abrindo-me honestamente, nas fragilidades expostas eu possa enfim sentir saúde e paz, independente da imperativa felicidade.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sem citação, sem referência, falando por mim!

Sobe e desce.
Agudo e grave.
Fino e grosso.
Esquerda e direita.
Para que lado devo ir?
Alegre ou triste.
Frio ou quente.
São e insano.
Qual é a sua loucura?
Sozinho ou acompanhado.
Introvertido ou extrovertido.
Motivado ou desmotivado.
Do que você gosta na vida?
Doce ou salgado.
Preto ou branco.
Livro ou filme.
Jazz ou samba.
Com quais atributos você qualifica suas escolhas?
Hetero ou homo.
Bonito ou feio.
Simpático ou antipático.
Sinônimos ou antônimos.

Na racionalidade da linguagem, assim como na irracionalidade do sujeito, os opostos caminham lado a lado. Paradoxalmente na impossibilidade da possibilidade do ser. Para alguns, preferências imutáveis, para outros, flexibilidade insistente, e outros ainda, rigidez radical. Não obstante, os significados pedem referência, por mais que se tente operar conceito, quem o faz, reduz. Quem interpreta é o sujeito, que responde felizmente a uma louvável indefinição dos significados. Embora permeados de significantes, o que seria isso mesmo? Se não uma reconstrução da linguagem em análise, para construção de um ser? 

(Que Freud e Lacan me perdoem se bobagens foram ditas! Amém)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sempre há tempo

Obnubilação constante.
Rara cosciência dada.
Repetidamente aflita, deu-se  ao cansaço.
Perplexa com emaranhados.
Alento ausente.
Aconchego distante, viu-se só.
Era hora disso ou daquilo.
Não importa, talvez.

Conselhos errantes.
Crenças desvirtuosas.
Certezas em falso, outra vez.
Recompõe-se como? Não sei.
Incomoda-se por dentro e por fora.

Foi pro rio, foi pro mar.
Começou a rir e a cantar.
Dissipou a bravura.
Escreveu linhas tortas com inflexível tônus muscular.
Falou do que não entendia, assumiu que sofria.
Chorou por amar.
Represálias recebidas.
Contar não podia a quem queria declarar.

Sempre há tempo.
No instante não se compreende.
Na vida vai sobrar.
Desejo não atendido, destino cedido, uma flor a murchar.
Sempre há tempo.
Na vida vai faltar.
Esperanças a fio, amor correspondido, ar puro para respirar.











terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tornar vazio

Transbordar certeza
Entornar saber
Derramar euforia
Esgotar amor
Detalhar desejo
Tornar vazio.

domingo, 26 de agosto de 2012

Tudo numa coisa só

'A gente tem que aprender a morrer, com aquilo que fomos, aquilo que somos nós'

Um coração que espera, pulsa
Um coração que desiste, chora...
Uma alma que deseja, arde
Uma alma que desencoraja, sofre...
Uma mente que reflete, descobre
Uma mente que se fecha, atrofia...
Um corpo que se move, realiza
Um corpo que paralisa, adoece.

Coração, alma, mente e corpo, os da sua preferência, os fundamentos envolvidos pela natureza humana. Do homem que sente, pensa e vive numa busca da perfeita felicidade, da intensa alegria, da plena saúde e do amor incondicional. Na busca de tudo que é tão bom que, às vezes, torna-se incansavelmente inatingível.

Coração adoece.
Mente sofre.
Alma chora.
Corpo atrofia.

Enquanto embuídos da missão de ter missão, de ter razão, de ser sensato, de apresentar sanidade, uma realidade se mostra mais dura. 'A cada minuto tem um olho chorando de alegria e outro de luto.'

Coração deseja.
Mente se move.
Alma reflete.
Corpo espera.

Dia a dia a ordem se inverte, as coisas mudam. Cada avanço é retrocesso, cada retorno é progresso, cada lágrima de dor se reverte em sorriso solto, tudo que vai - vem. Para deixar a indefinição no ar, não se conclui a vida. Não há certeza que descreva nossa subjetividade. Não há dor, não há alegria que possa ser descritível se não pela via da arte que nos impulsiona ao que há de mais bonito, nossa essência verdadeira de humanos.






sábado, 18 de agosto de 2012

Aquele fundo de verdade

Confesso, gosto do desconsertante.
Um olhar, uma piada, um riso fora da hora, um comentário ácido.
No mundo do politicamente correto, das cabeças concordantes, dos sorrisos amarelos, como é que a gente fala o que queria dizer? Fazendo graça! Ai eu falo, claro, de brincadeirinha!
Sejamos os locutores ou expectadores das piadinhas capsiosas, percebe-se o tom de 'fica com essa'.
Talvez não fosse o melhor jeito, ou o jeito mais honesto de se expressar, mas às vezes é o que dá.

A cada dia entendo que não viveríamos se não fossem as entrelinhas, os subentendidos, e contrariamente ao que eu acreditava, certas coisas não são para ser ditas mesmo. O implícito ainda cabe na maioria das situações! E não há como negar, para bom entendedor meia palavra basta.
Porque a gente quase sempre capta a vossa mensagem!

E não vou pestanejar, bom-humor pode chegar porque já que é para tratar algumas duras verdades, que seja ao menos divertido!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Inevitáveis

Todo homem conhece bem suas dores. Há quem perceba com facilidade. Outros que só as notam quando o corpo dá sinais. Há aqueles que convivem com ela por toda a vida. Há quem fale delas como num show de comédia e ainda há outros que contam seu enredo feito uma novela dramática. Há quem só silencia.
E as pessoas que conhecem suas dores dizem o que delas?
É bem verdade que temos inúmeros motivos para nos alegrar, mas sejamos realistas, quem nunca teve um nó na garganta por uma razão desconhecida?
A vida constantemente nos desafia a lidar com as dúvidas das decisões, as dores das perdas, das despedidas, dos rompimentos, da perda de saúde, de beleza, de status, de dinheiro, do amor, enfim... Dificuldades de uma vida sem tempo para os filhos, para o marido, para você, para sua casa, para seu cabelo, para que seu corpo descanse, repouse.
E ai a gente acelera mesmo, preenche todos os espaços, ocupa as lacunas de horários, e tempo livre imperativamente não pode existir.  Com toda essa dinâmica, como tratamos nossos relacionamentos, nossos desejos, nossos sonhos, como será que construimos nossa dignidade e a do próximo? Como exercemos os valores fundamentais? Será que avaliamos nosso dia, nossa jornada, a concretude dos nossos planos?
Uma das dores infalíveis do homem é o arrependimento. E essa muitos conhecem.
Cada um vai lidar com as dores como pode, alguns precisarão mais de ajuda que outros, e não há nenhum mal nisso. Fascinante é ver a superação, tão inevitável quanto às problemáticas da vida, ela nos comove a cada dia. Vivemos nesse misto do que é dor, do que é alegria, das duas que se misturam e das experiências que nos revelam, assim como os curativos que sanam a dor, o quão maravilhoso é tocar e retocar a existência.


quarta-feira, 4 de julho de 2012

O que vem depois do ato falho?

Nossa linguagem é astuta e muito mais esperta que nós mesmos. Ela nos revela.
Para o bem da civilização nós nos regulamos para evitar os deslizes do súbito engano.
Controle excessivo, não posso errar!!!
E para o nosso próprio bem algo escapa aos ouvidos atentos.
Para o bem geral nós necessitamos de represárias muitas vezes. Apesar do ímpeto fluir mais fácil.
Mas as coisas não podem ser gerenciadas pelo impulso, claro que não.
Não vejo beneficio nas verborréias doentias e sem censura que nos ilude a uma certa liberdade de se poder falar, de impor-se pelo falatório.
Do que quero tratar então? Do famoso ato falho psicanalítico.
Freud foi genial ao perceber algo que está ai, totalmente disponível.
Fico fascinada pela sutileza de um erro bobo, de uma leda confusão entre as palavras, que também fala sobre nós e muito!
Ao cometer um ato falho recente na minha análise e ao constatar o que aquilo significava, tratei de me refazer. E pude ouvir! Era justamente essa falha vil que me faria retomar o trabalho das minhas questões.
"É uma puta falta de sacanagem" - clássico ato falho do youtube - ficar reparando essas tolices.
Convenço-me que ao se tratar dos seres humanos, com capacidade, inteligência para se articular e se comunicar é incrível como temos oportunidades ímpares de aprender até nos atos falhos.
No constrangimento inevitável e na surpresa desagradável o ato falho clarifica as coisas.
Saibamos aproveitar!

"Errar é aprender, viver é deixar viver"




domingo, 1 de julho de 2012

Além do que se vê

Poema em linha reta (Fernando Pessoa - Alvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

... E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

domingo, 17 de junho de 2012

Amor velado amor

Eu e você - a gente - nasce e cresce...
Desde que nasce busca o amor.
Quando cresce rejeita alguns deles, os principais.
Cresce e conhece um monte de coisa na vida.
Estudo, trabalho, festa, dinheiro, compras e solidão.

Cresceu um pouco mais, descobre outro jeito de amar.
Dura pouco mas é intenso. Amor na pele.
Cresce mais um pouco e conhece um trabalho melhor, mais dinheiro...
E esquece do amor.
Afinal não é tão fácil assim achar aquilo que buscamos.
Pelo menos não para alguns privilegiados.

A compensação nessa busca é tão nítida como na repetição psicanalítica.
Busco a felicidade mas não busco o amor? Hipocrisia.
Quero é amor do jeito que for!
O problema que hoje em dia se ama do pior jeito, sem respeito. Ai não dá.
Amor próprio só? Cada um fica com o seu.

Eu e você - a gente - nasce, cresce e morre buscando amor.
De todas as formas!
Nos sorrisos, nos aplausos, nas notas dez, nas promoções...
No jantar romântico, na dança sensual, na música tocada, nas mãos dadas...
No abraço, no presente dado e recebido, na carícia escondida...
Na festa surpresa, no curtir e no comentário, na quantidade de amigos...
No telefonema de domingo a tarde, na cantada cafona e na ceninha de ciúmes.

Amor que se revele.
Amor que se acalme.
Amor que se preze.
Amor que  resolve.
Amor que  interage.
Amor que se encontra e ponto final.









sábado, 16 de junho de 2012

É preciso saber que não se sabe, e esse já é o caminho do saber!

Sorrateiramente a vida vem me presenteando com mudanças de comportamentos pelas quais eu desejava. Nada muito profundo, posso dizer que até bem superficial, é justamente aquilo que todo mundo vê que precisamos mudar. Havia um padrão, talvez ainda haja, mas ele vem sendo reformatado, regulado e desregulado. Não tem nada melhor que se ver diante de si mesma, aliás, às vezes, isso é a pior coisa, mas ajuda a melhorar outras. E eu gosto de me enxergar bem de perto. E por isso quero expor algumas elucubrações.

Vivo hoje uma tensão diferente em relação a minha formação (psicologia) e profissão que é minha vocação - não tenho dúvidas. O 'suposto saber' sobre o ser humano, ah sim, é um suposto saber, aflinge um tanto, que quer saber?! É bem mais difícil do que eu pensava. Afinal eu me formei, estudei cinco anos e como não saber resolver todos os problemas de comportamento, de sentimento, de pensamento dos indivíduos e dos grupos? Pois é, pode imaginar no que deu. Uma angústia danada de achar que não sirvo para isso. Com a frustração de cada dia aprendi que a jornada do aprender a saber, aprender a fazer e aprender a ser apenas começou.

Agradeço a cada pessoa que, em particular, me ensinou o único conselho que deve ser ouvido sem crítica: "estuda menina". Não vejo hoje possibilidade de crescimento pessoal ou profissional sem a árdua tarefa de estar diante dos ensinamentos e decifrá-los. Não há para mim nada mais atraente do que conhecer ou encontrar sujeitos ávidos pelo conhecimento. Abrindo parênteses - num passado próximo eu até achava que era bobagem se preocupar com a matéria física, e não é, óbvio. Eu sei hoje dar valor aos momentos do 'corpo são'. Preocupante é o caminhar para 'não razão' que se promove hoje em dia - fechando parênteses.

Incomoda bastante a usurpação do conhecimento. Não é necessariamente porque fiz uma faculdade, um curso, uma pós-graduação ou algo semelhante que já cumpri com a missão de saber algo nessa vida. Não nos apropriamos do conhecimento dessa forma. E meu respeito é especialmente hoje para aqueles que consquistam um conhecimento tácito na vida. Àqueles felizes seres humanos que interpretam as informações, degustam, trituram, saboreiam e às vezes rejeitam mas que de certa forma as conhecem de verdade. Para aqueles a quem a vida parece que ensinou mais e exalam experiência e cultura. Com quem se pode conversar por horas e horas que não há cansaço, porque a mente sempre abre um pouco mais de espaço para abraçar um novo argumento, uma afirmação que intriga e um questionamento que surge, e assim uma nova discussão se coloca. Em meio a tudo isso surgem autores, livros, pesquisas, novidades que eram desconhecidas . Se vê assim a construção lícita de um saber. E a minha admiração maior não é pelo resultado ou pelo que se constata no fim, é justamente a trajetória de aprendizagem que me interessa, e o nome disso eu aprendi, é transpiração. O percurso árduo de abandonar algumas futilidades dessa vida e por se a conhecer melhor as coisas do mundo em que vivemos.

E para isso, partir do pressuposto que não existe um saber prévio, ou que ao menos ele nunca é suficiente - independente da área de atuação - ajuda a entender sim que estamos em constante formação!!!

A todos que se interessam por uma evolução ainda nessa geração, ainda nessa encarnação, temos um dever genuíno de não nos dar por compreendidos, por vencidos pelas matérias estudadas e pelas notícias que tivemos sobre algum assunto, ou pelo que achamos que já sabemos sobre algo.
Apesar de sofrer um pouco ao me dar conta dessas questões, me sinto mais aliviada entretanto preocupada porque 'Eu tenho o direito de não saber mas tenho o dever de estudar.'

É isso!

sábado, 12 de maio de 2012

Sensibilidade de um gênio - história da Geni

Geni e o Zepelim

 Chico Buarque

"De tudo que é nego torto, do mangue e do cais do porto, ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes, dos cegos, dos retirantes, é de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina, na garagem, na cantina, atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos, das loucas, dos lazarentos, dos moleques do internato.
E também vai amiúde, co'os velhinhos sem saúde e  as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade, e é por isso que a cidade vive sempre a repetir:
"Joga pedra na Geni, joga pedra na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni".
Um dia surgiu, brilhante entre as nuvens, flutuante um enorme zepelim. Pairou sobre os edifícios abriu dois mil orifícios com dois mil canhões assim. A cidade apavorada, se quedou paralisada, pronta pra virar geléia. Mas do zepelim gigante desceu o seu comandante dizendo - "Mudei de idéia- Quando vi nesta cidade- Tanto horror e iniqüidade- Resolvi tudo explodir- Mas posso evitar o drama- se aquela formosa dama- Esta noite me servir."
Essa dama era Geni, mas não pode ser Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um maldita Geni.
Mas de fato, logo ela tão coitada e tão singela cativara o forasteiro, o guerreiro tão vistoso, tão temido e poderoso era dela, prisioneiro. Acontece que a donzela- e isso era segredo dela também tinha seus caprichos e a deitar com homem tão nobre tão cheirando a brilho e a cobre preferia amar com os bichos. Ao ouvir tal heresia, a cidade em romaria foi beijar a sua mão. O prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro com um milhão. "Vai com ele, vai Geni, vai com ele, vai Geni, você pode nos salvar, você vai nos redimir. Você dá pra qualquer um, bendita Geni."
Foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos que ela dominou seu asco. Nessa noite lancinante entregou-se a tal amante como quem dá-se ao carrasco ele fez tanta sujeira, lambuzou-se a noite inteira, até ficar saciado. E nem bem amanhecia, partiu numa nuvem fria com seu zepelim prateado. Num suspiro aliviado ela se virou de lado e tentou até sorrir, mas logo raiou o dia. E a cidade em cantoria, não deixou ela dormir. "Joga pedra na Geni, joga bosta na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni".

http://www.vagalume.com.br/chico-buarque/geni-e-o-zepelim.html#ixzz1ugXH1FSS

sábado, 5 de maio de 2012

'Eu finjo ter paciência'

Nesse texto um exercício do 'EU'!
Sei que muitas vezes escrevo na primeira pessoa do plural, generalizando minhas considerações aos demais. Peço desculpas por isso.
Uma primeira colocação:  é difícil assumir certas impressões - vai que estou sozinha nisso!

Roubei essa frase da música do Lenine, porque ela sintetiza bem o sentimento atual do meu 'EU'.
Quem puder, me ajude a distinguir o que para mim hoje se confunde:
Tolerância/ Paciência/ Comodismo/ Fingimento...
No exercício diário de ter paciência, percebi que certas coisas não se pode tolerar.
A parcimônia por ora é nociva. Um mal difícil de se dissipar.
Assumo! Finjo ter paciência em momentos impróprios. E quando devia ela me escapa, não sou de ferro. Sou uma pessoa inquieta demais para isso.
Minha inquietude me leva a indagar até de forma excessiva e por vezes sem razão.
E o que sobressai é um sentimento forte de inadequação.
Os questionamentos não são bem-vistos! Discutir não é o que interessa. A palavra de ordem é ordem!
O que faço eu então, com os argumentos, coloco no bolso? Uso numa próxima ocasião? Quando terei espaço?
'Eu finjo ter paciência!'  Acho que deveria parar de fingir e realmente ter paciência.
Mas hoje está difícil. Conduzo minha vida na esperança de exprimir coerência.
Tentar minimizar o abismo de pensar, sentir e agir.
Mas a cadência é tão avessa, que num súbito instante percebo que ajo depois penso e por consequência sinto. E vejo culpa na lógica inversa que ocorrera.
'Me recuso, faço hora, vou na valsa, a vida é tão rara.'
Preciso de tempo e paciência porque o mundo vai girar cada vez mais veloz, eu sei.
Meu 'EU' precisa desse tempo, para entender a legitimidade das minhas questões, de onde elas vem e para que servem e finalmente para onde quero que elas vão.
'Será que é tempo que nos falta para perceber, será que temos esse tempo para perder?'

Não pretendia fazer do blog um despejo, mas  me foi útil organizar as idéias confusas, obscuras, doídas aqui. Desde o início havia esse propósito, vamos sublimar nessa via. E funciona!
Perdoe-me os leitores. A vocês também peço, PACIÊNCIA!


terça-feira, 1 de maio de 2012

Cobrir e despir

Eu gosto de olhar para vida. De olhar para dentro e para fora. Sobrevoar.
Eu gosto de imaginar - não tão humildemente como deveria - Deus, que vê tudo lá de cima, com a piedade que Ele tem, mas ao mesmo tempo com a unipresença que é só Dele.
É pretencioso mas vou dizer. Às vezes eu tento, também enxergar lá de cima as coisas daqui. Num exercício de compreender a vida, de compreender os passos, o percurso, o rumo da humanidade, sobretudo da minha humanidade. E é frustrante não ter o mesmo olhar de Deus. Porque eu não entendo, não tenho ciência como me agradaria ter. A cada dia eu questiono o 'não saber', como se eu merecesse esse bem e como se fosse um bem. Não dá para concluir que é.
Particularmente quero falar da construção de afetos. Na verdade o que interessa, não é um 'saber' lógico, de como as coisas se dão na vida, é um 'saber' socioemocional. Todo ser humano já se perguntou, por que eu sou como eu sou? Ou já projetou a pergunta  - Por que ele é quem é? Ou ainda por que eu não sou como ele é? E nisso há um determinismo contundente, fatalmente insistente, difícil de lidar. E todo o manejo do analista consite em saber mexer nisso. Tarefa árdua de questionar: quem é o quê? No máximo - com o perdão do gerúndio - nós estamos sendo. Não convence, todos sabemos disso. Saber que 'estamos sendo' é muito mais difícil, por motivos notórios. Abre espaço para mudança. Ser quem se é - não se surpreenda - é muito fácil, complexo é deixar de ser. Se despir diante do outro pode ser tortuoso. (Ai entenda o despir-se como quiser, de um jeito ou de outro ele é emblemático.) A vida exige uma roupagem diferente todos os dias. Conforme a estação, a ocasião, dependendo da companhia e até mesmo da solidão, precisamos nos vestir de uma ou outra maneira. O 'ser na vida' é dinâmico, de uma maneira que muitas vezes não conseguimos suportar. Deus, possivelmente tenta nos mostrar isso. Na hora que você acha que o tempo vai firmar, vem um temporal e exige de você, remanejar a agenda, reprogramar viagem, desfazer planos. Esse, com certeza, é o exemplo mais bobo, da lição maior.
E acho que Deus sabe que, às vezes, a gente precisa se cobrir também. O frio dói, por vezes, de maneira insuportável. A friagem que vem na hora que a gente precisa se despir é avassaladora. E temos medo, muito medo. Muitos de nós prefere se acomodar vestindo o pijama mais velho, aquele já surrado, furado, que ganhou no aniversário de 15 anos, e se abrigar debaixo do edredon que cobre tudo, para ninguém ver que o pijama é velho e feio. Fazemos isso a todo tempo com nosso 'eu' e com essas tais características socioemocionais que julgamos ser nossa constiuição e  nos agarramos a elas, não tiramos do 'corpo' de jeito nenhum, porque por mais que sejam 'velhas' são confortáveis demais.
Nós não precisamos jogar todos os nossos pijamos velhos de uma só vez, porque eles são necessários. Para além do consumo sem sentido, comprar roupas novas de vez em quando faz bem. Precisamos nos despir, nos ver nus, na expressão apropriada 'como viemos ao mundo'. Temos que abandonar um pouco desse 'eu' estático e imutável que incoscientemente criamos para sustentar a não mudança. E mais uma vez, é no corriqueiro que a vida ensina... Ah e Deus também.

A gente se acostuma, mas não devia...

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez vai pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto se acostumar, perde-se de si mesma.

Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia" Marina Colasanti

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Um toque de leveza

O mundo está pesado.
Nada mais me intriga do que perceber o peso das coisas atuais.
Os indivíduos superdimensionam.
Perdeu-se o valor das coisas simples...
A modernidade surge para facilitar, mas sei lá porque motivo necessitamos complicar.
Talvez porque a vida não seja tão fácil, mas de fato ela pode ser mais leve.
Receber a nota de uma prova pode ser mais leve...
Gostar de alguém pode ser mais leve...
Receber uma crítica pode ser mais leve...
Ter um dia ruim pode ser mais leve...
Perder tempo com bobagem pode ser mais leve...
Perceber que não tem atenção de todos como gostaria pode ser mais leve...
Não fazer o que programou pode ser mais leve...

Tudo que pesa demais, ocupa mais espaço... e um dia pode não caber!
E quando não cabe, dói, sufoca, irrita, e angustia...
Abra espaço, desocupe. Amontoar culpa não vai adiantar...
Uma vez por dia, dê de ombros pra alguma coisa que está pesada...
Deixe a leveza chegar, devagar...

domingo, 25 de março de 2012

Amor é para quem ama - Lenine

Amor É Pra Quem Ama - Lenine

Qualquer amor já é
Um pouquinho de saúde
Um montão de claridade
Contribuição Pra cura dos problemas da cidade
Qualquer amor que vem
Desse vagabundo e bobo
Coração atrapalhado
Procurando o Endereço
De outro coração fechado
Amor é pra quem ama
Amor matéria-prima
A chama
O sumo
A soma
O tema
Amor é pra quem vive
Amor que não prescreve
Eterno
Terno
Pleno
Insando
Luz do sol da noite escura"
Qualquer amor já é
Um pouquinho de Saúde
Um descanso na Loucura"

quarta-feira, 21 de março de 2012

Efeito apaziguador

Os afazeres diários nos desafiam a cada dia, a cada instante.
Não são somente ou principalmente os grandes feitos que nos mobilizam.
Reconheço hoje uma intensidade na vida comum e ao mesmo tempo um valor que há tempos atrás para mim, seriam empreendimentos possíveis de experimentação só para gente grande.
Grandes executivos, grandes cientistas, grandes artistas, grandes empreendedores.
Até então achava que só os grandes faziam a diferença.
Inversamente a essa minha pré-concepção, hoje me proponho a apreciar que a vida corre é ali, é aqui, é um gesto, uma atitude, uma palavra. Nessa forma de pensar, tudo fica dimensionado mais de perto.
Acho que nós temos uma grande dificuldade de aproximação, e provavelmente uma facilidade para distanciar. E lamentavelmente uma tendência para agir com a conveniência que nos fará tirar proveito numa situação ou noutra. E em tudo, o detalhe é decisivo, temos oportunidade de escolher, e tem muita gente escolhendo o momento errado na vida de aproximar e de afastar. Entretanto o aprendizado vem a galope, certeiro.
Revelar conforta. Eu preciso revelar. Tenho me convencido no decorrer da minha vida, do quanto os problemas estão perto, é um dado simples, se repete, e está ao lado, nos muitos lados, muitas vezes estão aqui e ai, comigo e com você, na vida da gente comum, que mata um leão por dia para conquistar o que quer que seja. Minha revelação não termina pessimista. Assim como a dor da alma humana pode se alcançar quem esticar a mão para tocar, a cura, a solução e a sanidade também estão bem pertinho. O caminho se abre no mesmo instante que você se abre para vê-lo surgir. Acostumamos a engessar os processos e muito mais, a engessar a nós mesmos.
Me proponho hoje ao exercício de girar!!!
Girando a gente passa a ver por vários ângulos, com outros olhos, sentir o nosso movimento aonde só havia paralisia, cansaço, desconforto. Girando, descobrimos coisas que estavam ali e nunca tínhamos notado, vemos movimento nas coisas ao nosso redor e girando eu percebo que eu sou só uma parte, uma pequena e ínfima parte de tudo que me cerca. Existe um todo maior, muito maior. Mas que eu só alcanço sendo parte. E ser parte, é ser pouco, é ser nada às vezes, é ser a pequena diferença, presente, insistente, que incomoda, que se mexe, que se prova na sutileza da vida, aquela que se repete, de sete às sete, mas que não se pode diminuir e que não necessita se engradecer.
Ao girar tudo fica mais ameno, pequeno e em paz...

domingo, 18 de março de 2012

domingo, 11 de março de 2012

Os acordes da paixão que fazem a melodia do amor

Em versos e estrofes quase se pode concretizar um amor,
você sente tanto como se aquele bem fosse seu.
Das rimas arranjadas para aproximar as palavras,
percebe a tentativa de colar os corações,
dois acordes que ajudam, sonoridade escolhida e a platéia revida
com sorriso de canto, alguns já em prantos, de emoção suspirando.
Não se acredita, que resgata uma vida, se faz bonita,
só de ali deixar entrar nos ouvidos, a poesia ritmada para se apaixonar.
Quem sofreu, quem ainda sofre e quem feliz está, se põe a cantar.
Os mais dramáticos, vibram empáticos, o peito a explodir, vontade de cair.
A cada acorde, nos instrumentos e nas mãos, daqueles benditos transmissores,
a voz acalenta, repara os mais rígidos, amolece a alma de quem se permite.
Se deixa levar... O som da saudade, do carinho, da delícia de se encontrar.

Murmúrio

Murmúrio - Casuarina
"Hoje só quero o murmúrio do canto da noite que vem me embalar
Quero escutar a saudade que tem tanta coisa pra me revelar
Lembrar que te amei muito mais do que é permitido em uma ilusão
E preencher o vazio com tudo que dita o meu coração
Hoje só quero o murmúrio da brisa macia que vem lá do mar
Quero seguir o caminho do tempo que passa pra não mais voltar
Cantar e quem sabe chorar tudo quanto ganhei, tudo quanto perdi
Relembrar amores que vivi...
Há quanto tempo que eu vivo a buscar solidão
Loucuras fiz a me enganar, a me perder sem razão
Hoje só quero poder relembrar sob o clarão do luar
Tudo que sofri sem reclamar."

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Um bom texto sobre o vocabulário feminino (ou humano)

Não sou muito adepta de ler textos que me dê a impressão de ler receita de bolo, ou bula de remédio, com prescrições, recomendações, medições, entretanto este texto (na verdade uma palestra, pelo que entendi) sugere algumas coisas contundentes e inspiradoras. Me tocou! Também me fez despertar para o contorno de comportamentos dos quais não nos damos conta  no cotiadiano e são bem descritos no texto.

A quem quiser apreciar...

"Se eu tivesse que escolher uma palavra - apenas uma - para ser item
obrigatório no vocabulário da mulher de hoje, essa palavra seria um
verbo de quatro sílabas:
descomplicar.
Depois de infinitas (e imensas) conquistas, acho que está passando da
hora de aprendermos a viver com mais leveza:
exigir menos dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar
menos, carregar menos culpa, olhar menos para o espelho.

Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão
falada qualidade de vida que queremos - e merecemos - ter.

Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da
mulher moderna.
Amizade, por exemplo.
Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas
relações amorosas, acabamos deixando as amigas em segundo plano.

E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto a
convivência com as amigas.
Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente), sair
sem ter hora para voltar, compartilhar uma caipivodca de morango e
repetir as histórias que já nos contamos mil vezes - isso, sim, faz
bem para a pele.

Para a alma, então, nem se fala.

Ao menos uma vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa,
prometa-se que não vai ligar para ele nem uma vez (desligue o celular,
se for preciso) e desfrute os prazeres que só uma boa amizade consegue
proporcionar.

E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário
duas palavras que têm estado ausentes do cotidiano feminino:
pausa e silêncio.

Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três vezes por
semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia - não importa - e a
ficar em silêncio.

Essas pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes
de uma decisão importante, entender melhor os próprios sentimentos,
reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir.
Não há creme anti-idade nem botox que salve a expressão de uma mulher
mal-humorada.
Azedume e amargura são palavras que devem ser banidas do nosso dia a dia.
Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na
conversa de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga
engraçada - faça qualquer coisa, mas ria.
O riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia
com a vida.

Quanto à palavra dieta, cuidado:
mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas companhias.

Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no
consultório do endocrinologista.
Nas mesas de restaurantes, nem pensar.

Se for para ficar contando calorias, descrevendo a própria culpa e
olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e
inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e seu
chá verde sozinha.

Uma sugestão?
Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim,
deveria guiar nossos atos 24 horas por dia: gentileza.

Ter classe não é usar roupas de grife:
é ser delicada.
Saber se comportar é infinitamente mais importante do que saber se vestir.

Resgate aquele velho exercício que anda esquecido:
aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria
de ser tratada,
seja no trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa,
no supermercado,
na academia.

E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser
indissociáveis da vida:
sonhar e recomeçar.

Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia,
o curso que você ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um
dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda vai ser seu, sonhe que
está beijando o Brad Pitt ...
sonhar é quase fazer acontecer.
Sonhe até que aconteça.

E recomece, sempre que for preciso:
seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos familiares.
A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma.

E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a
palavra perfeição.

O dicionário das mulheres interessantes inclui fragilidades,
inseguranças, limites.

Pare de brigar com você mesma para ser a mãe perfeita, a dona de casa
impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil.

Acima de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas
sem celulite, rosto sem rugas, cabelos que não arrepiam, bumbum que
encara qualquer biquíni.
Mulheres reais são mulheres imperfeitas.
E mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres.
Viver não é (e nunca foi) fácil, mas, quando se elimina o excesso de
peso da bagagem
(e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão sonhada felicidade fica
muito mais possível."

Jornalista Leila Ferreira 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Parece que deu um nó

Travesso, atravessado, pelo laço, preso no embaraço,
enrola, enrolado, que seu rolo já é conhecido,
Braços cruzados, efeito camisa de força,
contento a loucura velada, domesticada, sossegada.

Ficar maluco, embolar tudo, não se ajeitar,
ficar atrasado, esfomeado, desempregado, distraído, devendo,
Pernas amarradas, efeito da paralisia,
aqueles impecilhos cômicos, crescem em alta escala.

Não há descanso. A vida exige jogo de cintura.
Se coloque numa posição artista, porque as coisas vão embolar.
Não é a toa que até Nossa Senhora é desatadora de nós.




 

Crônica do Ernesto: um prolixo poliqueixoso

Ernesto acordava reclamando do despertador.
Logo em frente ao espelho, discutia com ele mesmo.
Não estava satisfeito com o sombreado das olheras em seu rosto.

Ernesto fazia o pão com manteiga de cada dia,
desejando o apresuntado do vizinho.
Implorava para que a lata do pó de café, reproduzisse o produto sozinha.
Sem sucesso, obviamente, partia para o nescau com leite ninho.
Não achava o ponto bom nem por reza.

E às 7:45 da manhã, Ernesto já conseguiu de cinco formas lamentar ter nascido.
Que droga de vida!
Nada dar certo para mim...
O que eu vim fazer aqui?
Porque não escolhia eu, viver ou não?
Para eu me dar mal, basta estar vivo...

Eram 8:25 e não se pdoe calcular, o quanto o mal-humor de Ernesto exalava desagrado.
Enquanto tomava banho, pensava na roupa que não tinha para vestir,
no carro importava que precisava consumir,
na mesquinharia de tudo que é tipo,
e desdenhava o que outro tinha e não podia comprar,
se achando no direito de ter e ser mais, como não?

Ernesto aceitara trabalhar para sobreviver. Mas depois viu vantagem.
Suportava sua rotina, porque ali, mais um milhão de motivos arranjava para se queixar.
Ainda de rebarba, encontrava também meia dúzia de ostentadores da desgraça alheia,
que se distraiam a ouvir a verbóeia de Ernesto,
contra a siderúrgica, metia o pau no patrão bobão,
não dispensava um comentário de baixo calão sobre Joana da limpeza,
perseguia o assim apelidado, Marchalenta do operacional,
e sua função demasiadamente simplória, na sua opinião,
justificava para Ernesto, a permissão para o falatório geral.

Ninguém era bom o bastante, nada era interessante o suficiente,
os comandos estavam equivocados, culpa do governo e do sistema.
Nenhum som ecoava suave e tranqulizante, tudo agredia e agoniava,
azar da cozinheira que se desafiava agradar tal paladar,
estava fadada a considerar-se zero a esquerda por muito tempo.

Ernesto, falava sem pudor, falava sem clichê, falava sem eira nem beira,
se queixava de tudo, de todos, de nada e de coisa alguma.
Sua áurea era azul petróleo e seu sorriso nunca se viu.
Do seu gosto não se sabe, mas do seu desgosto, muitos provaram.

Ernesto, era rei da incoveniência, maestro da desavença, amigo da tensão,
não se casou com a petulância, porque ela não aceitou.
Assim era Ernesto, o prolixo poliqueixoso.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Minha filosofia (Casuarina)

Não dá para não pensar nesta filosofia de vida... Essa música realmente me inspira...

Que possa inspirar também a vocês que visitam aqui...


Minha FilosofiaCasuarina

"Vai passarEsse meu mal estarEsse nó na gargantaDeixe estar... O próprio tempo diráÁgua demais mata a planta
Tudo que é muito, é demaisPeço: me perdoe a redundânciaEntrelinhas só quero lembrarQue a terra fértil um dia se cansaÉ uma questão de esperarRelógio que atrasa não adiantaE o remédio que curaTambém pode matarComo água demais mata a planta."  

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Num lugar sem espaço ou num espaço sem lugar

Desde os tempos remotos, a busca por espaço e por lugar é motivo de conquista, vitória e comemoração. Quem é entendido de História muito melhor do que eu pode dar explicações. Também os geógrafos conceituam espaço e lugar, configurando-se uma área de domínio desses estudiosos. O fato é que, mesmo usando-os como sinônimos não nos damos conta das sutis diferenças. Espaço designa um lugar determinado, porém lugar não é definido como um espaço, necessariamente (ao menos não pelo dicionário que consultei). Isso tudo é para introduzir, na verdade, a minha percepção particular da busca humana por encontrar espaço, lugar, lugar, espaço, e assim sem fim. Muitas pessoas já devem ter empregado as seguintes frases nas mais diversas ocasiões: "Minha namorada/pais/afins não me dão espaço", "Me sinto sem lugar", "Não tem espaço para mim nesta equipe/grupo", "Quero estar alcançar um lugar na empresa", "Aquela lá está tomando meu espaço" e inúmeras variações.  Parece interminável. Se me dedicar a compor frases cotidianamente utilizadas, atrevo-me a dizer que passarei horas nesta brincadeira. Às vezes tenho a impressão de que muitas pessoas perdem o tempo, a estribeira e o juízo, atrapalhados por não se localizar, e vivem tentando delimitar os territórios de suas vidas. Justo, não é nada fácil. Impressiona a conduta de iluminados seres humanos, que com maestria, conquistam lugar, voz e vez no mundo, e assim tomam grande espaço na política, na educação, na música, na ciência.  Exemplos raros. Eu, por assim descrever, na condição de discípulo aprendiz, desbravo territórios desconhecidos, entro por caminhos estreitos, bato em portas falsas, deparo-me com povos nativos, com civilizações estranhas, busco a calmaria navegando no oceano. Retorno para casa, e rezo  para ter energia no despertar da manhã seguinte para decifrar um pouco mais nitidamente qual o lugar que quero e preciso encontrar, qual é espaço que necessito para viver,  qual será minha posição perante os acontecimentos, como irei conduzir minhas escolhas, quais os limites vou impor diante de tudo aquilo que me abraça e que quero abraçar. Minha segurança é que bússolas e mapas podem nortear as descobertas, mesmo que sejam aquelas inesperadas por mim. E se assim for, um tanto melhor.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Síndrome dos vinte e poucos anos


A chamam de 'crise do quarto de vida'. Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos.Se dá conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a) etc. E cada vez desfruta mais dessa cerveijinha que serve como desculpa para conversar um pouco. As multidões já não são 'tão divertidas'... E às vezes até lhe incomodam. E você estranha o bem-bom da escola, dos grupos, de socializar com as mesmas pessoas de forma constante. Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas que conheceu e que o pessoal com quem perdeu contato são os amigos mais importantes para você. Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor. Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto pôde lhe fazer tanto mal. Ou, talvez, a noite você se lembre e se pergunte por que não pode conhecer alguém o suficiente interessante para querer conhecê-lo melhor. Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos e alguns começam a se casar. Talvez você também, realmente, ame alguém, mas, simplesmente, não tem certeza se está preparado (a) para se comprometer pelo resto da vida. Os rolês e encontros de uma noite começam a parecer baratos e ficar bêbado(a) e agir como um(a) idiota começa a parecer, realmente, estúpido. Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotada(o) e significa muito dinheiro para seu salário. Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes. Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras... Apenas com medo e confusa (o). De repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando. Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro... E com construir uma vida para você. E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela. Todos nós que temos 'vinte e tantos' e gostaríamos de voltar aos 15-16 algumas vezes. Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça... Mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos nossos medos... Dizem que esses tempos são o cimento do nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 16... Então, amanha teremos 30?!?! Assim tão rápido?!?!