sábado, 25 de fevereiro de 2012

Crônica do Ernesto: um prolixo poliqueixoso

Ernesto acordava reclamando do despertador.
Logo em frente ao espelho, discutia com ele mesmo.
Não estava satisfeito com o sombreado das olheras em seu rosto.

Ernesto fazia o pão com manteiga de cada dia,
desejando o apresuntado do vizinho.
Implorava para que a lata do pó de café, reproduzisse o produto sozinha.
Sem sucesso, obviamente, partia para o nescau com leite ninho.
Não achava o ponto bom nem por reza.

E às 7:45 da manhã, Ernesto já conseguiu de cinco formas lamentar ter nascido.
Que droga de vida!
Nada dar certo para mim...
O que eu vim fazer aqui?
Porque não escolhia eu, viver ou não?
Para eu me dar mal, basta estar vivo...

Eram 8:25 e não se pdoe calcular, o quanto o mal-humor de Ernesto exalava desagrado.
Enquanto tomava banho, pensava na roupa que não tinha para vestir,
no carro importava que precisava consumir,
na mesquinharia de tudo que é tipo,
e desdenhava o que outro tinha e não podia comprar,
se achando no direito de ter e ser mais, como não?

Ernesto aceitara trabalhar para sobreviver. Mas depois viu vantagem.
Suportava sua rotina, porque ali, mais um milhão de motivos arranjava para se queixar.
Ainda de rebarba, encontrava também meia dúzia de ostentadores da desgraça alheia,
que se distraiam a ouvir a verbóeia de Ernesto,
contra a siderúrgica, metia o pau no patrão bobão,
não dispensava um comentário de baixo calão sobre Joana da limpeza,
perseguia o assim apelidado, Marchalenta do operacional,
e sua função demasiadamente simplória, na sua opinião,
justificava para Ernesto, a permissão para o falatório geral.

Ninguém era bom o bastante, nada era interessante o suficiente,
os comandos estavam equivocados, culpa do governo e do sistema.
Nenhum som ecoava suave e tranqulizante, tudo agredia e agoniava,
azar da cozinheira que se desafiava agradar tal paladar,
estava fadada a considerar-se zero a esquerda por muito tempo.

Ernesto, falava sem pudor, falava sem clichê, falava sem eira nem beira,
se queixava de tudo, de todos, de nada e de coisa alguma.
Sua áurea era azul petróleo e seu sorriso nunca se viu.
Do seu gosto não se sabe, mas do seu desgosto, muitos provaram.

Ernesto, era rei da incoveniência, maestro da desavença, amigo da tensão,
não se casou com a petulância, porque ela não aceitou.
Assim era Ernesto, o prolixo poliqueixoso.

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