Nosso encontro foi marcado, não nos conhecíamos. Foi um
risco e tanto. De primeira, me assustei. O que eu estava fazendo? Não era o que
eu esperava. Emudeci. Ainda bem que você tagarelava, eu pensava. Não sabia qual
passo dar, para onde ir. Convidei. Você entrou. Eu queria ou não queria? Não
tinha definido. Esqueci-me das precauções. Você respeitou, esperou minha iniciativa.
Isso eu valorizei. Aos poucos eu gostei, eu tentei, mas pensava muito. O tempo
todo eu analisava. É isso que sei fazer.
Várias vezes desisti. Algo não me agradava, não sabia o que.
Ao mesmo tempo eu percebia que alguma coisa boa acontecia em mim. Havia uma
troca. Era novo para mim. Fluia, não sei porquê e nem como.
Foram dias, semanas, meses, de mensagens, de afetos, de
entrega, de confissões, de interrogações, de preocupações. Eu estava vivendo. As
ressalvas eram muitas. Estou gostando, mas... Disso eu não gostava. Vivia
colocando poréns, um atrás do outro.
Parecia casual, não vislumbrava uma relação além do que a
gente tinha. Era medo. Você também tinha medo que se somavam aos meus. Eu que
já era insegura, ficava cada vez mais insegura a cada vacilo e a falta de
iniciativa começava a incomodar de verdade. Sentia-me levando o “nós” sozinha. Criticava
o seu comportamento na minha mente, mas tolerava. Estava disposta a relevar,
afinal, achava que aprenderia a conviver com você, por inteiro. Interrogava-me
se exigiria alguma mudança e me perguntava se eu também queria mudar.
Resolvi aceitar, muitos conselhos recebi: “as pessoas são
diferentes mesmo”, “você não vai encontrar ninguém perfeito para você”. Assim,
seguia crente na possibilidade, na perspectiva, por mais que eu achasse que
estava me corroendo por dentro. Eu esperava atenção, carinho, às vezes, acontecia,
muitas vezes não.
A vida se encarregou dos desencontros, da indisponibilidade
de tempo, as festas de fim de ano nos consumiram, esfriaram o que já era
incerto.
Eu, antes de tudo isso acontecer, não acreditava que poderia
nascer qualquer sentimento de uma situação assim. Não sei explicar, desde o
início. Aconteceu do sentimento surgir, ficar e machucar.
Quis conversar, me expressar, fazer análises junto com você,
mas quem éramos para discutir a relação? Afastei-me na certeza de que não
teríamos uma despedida. Em rompantes, como eu costumava agir, apaguei conversas,
fotos, seu contato. Quis recomeçar. A tristeza me pegou de jeito, me mostrou
que você tinha sido importante. Doía me distanciar de você. Não queria ser
impulsiva, mas na minha cabeça, por horas e horas, todas as queixas se
passavam, imaginava a difícil conversa que teríamos, a briga para colocar os
pingos nos is. Nada disso ocorreu. Tudo ficou latente.
Você reaparecia como se nada tivesse acontecido. Só dizia
que não queria me magoar, que sentia saudades. Entretanto, não se posicionava. A
sua procura trouxe um certo alívio, por um tempo achei que bastava. Você era o
mesmo. Você continuava indisponível. Depois do nosso reencontro em que você
pareceu dedicado, achei que voltaria a fluir. Mas, não....
Cansei do “mas” seguido de reticências. Sei que a vida não é
feita só de ponto final como eu costumo fazer em relação aos meus romances, mas
essas reticências colocavam muita distância entre nós.
Novamente não teremos uma despedida, mas não
consigo continuar nesse lugar indefinido, nessa aposta que recua toda vez.
Sei que não foram nossas diferenças que determinaram esse
fim, mas a dificuldade de se decidir pelo que quer. Dessa vez, eu me decidi, e
mesmo não sabendo explicar, eu desejei e agora preciso me reinventar para
firmar um novo destino para mim.